Por: Raimundo Gonçalves
Essa loucura nos estádios de torcedores fanáticos pelo São Raimundo já vem dos anos 40, desde a criação do clube. Joaquim Viana da Silva, conhecido como Quincó, juntamente com dona Ana Caldeira, constituíram sua família enlaçada no manto alvinegro. Quincó, conhecidíssimo magarefe no Bairro da Aldeia, sempre morou na antiga Rua Benjamim Constant, hoje Silvério Sirotheau. Comprava porco, abatia e vendia a carne na cidade. Torcer pelo São Raimundo era uma religião para ele. Dentro de casa transpirava esse fanatismo contaminando toda família. No estádio nos jogos do São Raimundo, torcendo, ele pulava, gritava e xingava o adversário.
Quando a idade balançou a estrutura física ele não pode mais ir ao estádio Elinaldo Barbosa, mas seu rádio se transformava no palco dos espetáculos do Pantera. Quando se aproximava o Domingo de jogo, mandava uma de suas filhas comprarem pilhas novas para ouvir a narração do jogo. Às vezes uma delas informava: “Mas pai, o senhor mandou comprar semana passado um carrego de pilhas novas! Quincó respondia com orgulho de torcedor alvinegro: “Jogo do São Raimundo, só ouço com pilhas novas!” Ao decorrer da partida, tudo se ouvia, além de repetir o que fazia no estádio, de pular e gritar a cada gol, também ficava muito irritado e nervoso quando o seu time estava perdendo. Logicamente, que todo esse fanatismo levaria a contagiar a família como contagiou. Raimundo Caldeira Viana, conhecido como Ninito, Antonio Caldeira Viana, conhecido como Guedes e as quatro irmãs, que se transformaram em, as Loucas Irmãs Alvinegras. Edelzita (70), Helena (69), Ana (66) e Maria do Carmo (58).
Formavam o quarteto alvinegro de ir ao estádio e torcer freneticamente pelo Pantera Negra. De início elas apenas torciam em casa, só o seu irmão Ninito ia ao estádio junto com o pai, elas eram muito crianças e ouvia o jogo no rádio. Mas, quando Ninito seu irmão começou a jogar no Pantera, aí sim, elas iam ao estádio todos os jogos e nunca mais perderam uma partida do Pantera. Dia de jogo, as 14 horas já caminhavam para o Elinaldo Barbosa, queriam chegar primeiro e garantir o lugarzinho das irmãs alvinegras. Era no cantinho da calçada a frente da arquibancada central, a esquerda próximo do saudoso Bráulio, que vendia seu famoso refresco, do seu lado dona Inês, saudosa mãe do Darinta, dona Léa mãe dos Aflalos, que vendiam seus apetitosos docinhos. As irmãs ali se juntavam, com outras mulheres torcedoras como: Santinha, Gita, Rosilda, ex-Ricardo, Joana, irmã do Tamanco, Isabelona, Florinda, irmã do Surdão, entre outras que engrossavam aquela torcida feminina do barulho. Mas o destaque mesmo ficava com as Loucas Irmãs Alvinegras. Gritavam sem parar e ainda tinha tempo de discutir com Bráulio quando se manifestava a favor do seu São Francisco, aí imagine o que saia delas para o saudoso Fiu Fiu. Certo Domingo de RaixFran, na preliminar jogavam Aspirante do São Raimundo e a seleção de Aritapera. As irmãs pulavam incentivando o 2º quadro do Pantera, quando passou pelo corredor entre a calçada, que elas estavam e o alambrado do campo, torcedores do São Francisco com bandeiras em punho a gritar o nome Aritapera, era a rivalidade em peso.
As Irmãs Loucas Alvinegras, logo se manifestaram com alguns palavrões de xingamentos e foram ofendidas da mesma forma. Helena e Maria do Carmo pularam na bandeira do Leão e começaram a rasgar e a porrada comeu no centro da galera, era puxão de cabelo, tapas e pontapés. Quando a pequena torcida azulina da confusão viam que as irmãs não desistiam, se mandavam para o outro lado da galera do São Francisco. “Até hoje tenho a cicatriz no meu joelho, da queda que levei atracada com uma torcedora azulina, Só não foi pior porque o São Raimundo ganhou o São Francisco por 2x1, na partida de fundo, aí fomos juntas com os jogadores e toda a torcida festejar na sede do clube, subindo antigo Teatro Vitória, só foi sentir as raladuras na Segunda Feira.” Comentou Maria do Carmo. “Quando o Ninito jogava, o nosso irmão Guedes, nos acompanhava, mas não se metia em briga e nem nos xingamentos. Éramos muito ativas, trabalhávamos muito, mas com pouca idade tínhamos muita energia e na época mais explosiva dos RaixFran, anos 60, a mais velha tinha 25 anos, a depois dela a 23 anos, eu tinha 21 anos e a mais nova, 14 anos. A paixão pelo São Raimundo nos deixava cegas, então, fazíamos muita besteira, mas valeu. Se tivesse que fazer de novo, faria tudo outra vez, pelo meu Pantera, declarou, Ana.
Eu as acompanhava, mas não eram todas às vezes, mas quando começavam a emburrar o time não tinha jeito, e se acontecesse à briga, eu tinha que sair pelas minhas irmãs. Falou Edelzita. As irmãs Loucas Alvinegras continuam torcendo freneticamente pelo Pantera, mas somente pelo rádio. No Elinaldo Barbosa, a gente ia a pés e voltava de pés, sem medo de voltar ou se perder. No novo estádio fica difícil para nós, além de ser longe, o transporte não é fácil. Falou Edelzita. As irmãs foram em alguns jogos no Colosso, como: Contra o Fluminense, Flamengo, Vasco e Botafogo, quando uma nossa vizinha deu carona, depois nunca mais foram. Ficou difícil para elas a distância e as circunstâncias. Agora elas fazem como o velho e saudoso pai, colocam as pilhas novas no rádio e ficam mordendo os lábios, roendo unhas, pulando e vibrando, quando o São Raimundo faz um gol, ou ganha a partida. Na noite que o São Raimundo foi Campeão Brasileiro, nós choramos, quando o Macaé fez o primeiro gol, mas quando o Pantera empatou e fez o gol da vitória, nós voltamos a chorar, mas de alegria e para completar, eles passaram pela Barjonas de Miranda, na carreata da vitória, foi um presente para nós. Saímos corremos de casa para a travessa para saudar os vitoriosos gritando e pulando como nos velhos tempos. Emociona-se Maria do Carmo. Gente vocês não imaginam como essa família é humilde, bonita e generosa.
Esse era um sonho meu, fazer a história dessas meninas, que hoje já são senhoras. Porém, tive uma grande tristeza, que muito me abalou, quando uma delas, faleceu há duas semanas, a Helena. Acreditem a mais fanática das irmãs, era como o pai. Sofria, xingava e delirava com as vitórias. Queria um depoimento seu para ilustrar as Irmãs Loucas Alvinegras, e como sempre quis deixá-la por ultimo, devido ela ser a mais louca alvinegra das irmãs e vejam o que aconteceu: A perdi. Lembro-me quando em conversa franca sobre a família, em sua casa, eu degustava uma gostosa tapioquinha, e lhe perguntava sobre a paixão pelo São Raimundo. Apenas essas poucas palavras eu conseguir naquela tarde de Sábado: O São Raimundo faz parte da minha vida, desde que me entendi, por isso, ele sempre me deixa triste e alegre... Neste momento ela foi interrompida para atender alguém, que lhe chamava na cozinha. Como naquele dia eu não estava fazendo a matéria, também fui embora e não mais conseguir falar com ela. Obrigado, Edelzita, Ana e Maria do Carmo pela grandeza humildade e pela transparência humana, que vocês me proporcionaram e que Deus guarde em seu coração a nossa querida saudosa Helena.
Santarém, 08 de Setembro de 2011.
Raimundo Gonçalves.







