Por: Raimundo Gonçalves
Porque tem que ser assim! Há várias explicações, mas ninguém da família se conforma, principalmente, quando a pessoas que amamos está aqui hoje, junto de nós, conversando, contando piadas, sorrindo... Amanhã, já não é a mesma coisa. Um forte baque no peito e fica sem jeito e o nosso querido irmão já se foi. Estamos prestando uma singela homenagem ao nosso grande amigo, que faleceu na cidade do Iapoque, depois de sofrer um fulminante ataque cardíaco na tarde de Sábado, 17 de Março as 13horas, trabalhando. A notícia se espalhou e a tristeza tomou conta de todos os familiares e amigos, que admirava o Walter Pereira Pinto. Nosso irmão foi criado em uma família modesta e humilde, mas cheia de vida e dignidade. Seu Santana seu pai, um pescador, e dona Bibi, sua mãe, dona de casa, trazia o suspiro da arte e da cultura folclórica na alma, mas como expandir externamente, sem condições para arcar com as despesas que viriam, com roupas e materiais diversos, não se importou e fazia a sua festa dentro de casa com os parentes mais próximos, de quadrilhas a carnaval, a folia se fazia a alegria da família.
Neste ambiente nasceu Walter, mas de início o que mais lhe chamava atenção era mesmo o futebol, descia a 2 de Junho e já se acampava no campinho do Barão do tapajós e lá com outros moleques já mostrava a segurança e responsabilidade na zaga do seu time. Logo ele estava vestindo a camisa da JOC, eram vários garotos que tinham que freqüentar o Grupo de Jovem da Cruzada de Nossa Senhora de Fátima, rezar muito para ter uma formação espiritual e familiar. Por ser um bom zagueiro Walter estava sempre entre os titulares, foi quando o time da JOC para podia participar de campeonato na cidade, então foi criado com quase os mesmos jogadores o Santiago, que representaria o nome do santo São Tiago, em homenagem a igreja. Já com o nome bastante famoso na Aldeia, transferiu-se para o Morango, um time de maior conhecimento no bairro.
Sua carreira como jogador de futebol, não foi muito abrangente, mas o suficiente para sempre estar em equipes da cidade como um zagueiro de qualidade e muita responsabilidade. Foi convidado a defender o Bonsucesso, hoje Esporte Clube Santarém, clube do seu cunhado Daniel Feitosa no campeonato santareno, onde teve a oportunidade de jogar com jogadores que fizeram muito sucesso no nosso futebol como: Walkir, Waldomiro, Bené, Nazareno, Cabinha, Baiano, entre outros. Outro clube que defendeu logo a seguir foi o Fluminense de seu Elvio Fonseca, onde também jogou ao lado de: Leonardo Belterra, Belém, Brito, João Neto, Dote, Vieirinha, entre outros, e finalmente o seu ultimo clube do certame da 1ª divisão, foi o Norte Clube, saindo do bairro da Aldeia para o da Prainha, e lá conheceu outros companheiros como: Dió, Bicho, Atanael, Louro, João Maranhão, Lobato, Kid, entre outros, como percebemos, Walter foi de fato um grande atleta na nossa cidade e serviu com talento os clubes por onde passou. Não prosseguindo mais por causa do trabalho, veio o casamento e a necessidade de cuidar da família ficou em primeiro plano.
Entra então de uma vez o sangue familiar trazido da sua mãe dona Bibi, do folclore santareno, a Walter, faz se apaixonou de vez pelo gosto das danças folclóricas. Sua primeira participação, além das que sua mãe fazia em casa, foi sem dúvida, a Quadrilha do Jandiá, lá Walter já mostrava o dom pela criatividade e responsabilidade na organização, tanto que ao deixar esta quadrilha, criou uma própria, a Quadrilha 2 de Junho, onde o mesmo morava. Tanto sucesso ele fazia, que logo foi convidado pelo Grupo de Mães da Comunidade de Fátima para ser o organizador e mentor da Quadrilha, Matutos da Roça, ali uniu o útil ao agradável, a maioria dos componentes eram da sua família, todos agregado na mesma comunidade e o sucesso foi notável.
Walter consegue um emprego na Serraria Dione, onde era um funcionário de destaque, seus patrões o tinham como um dos melhores empregado da firma e todo apoio ele tinha, do seu Antonio Alexandre e dona Maria Lindalva, os primeiros donos. Depois do Seu Ademar Rabelo e Betinha, Dr. Manoel e Dra. Rita Moura. Mas tinha algo na cabeça de Walter que não podia parar. Chegava à época do folclore lá estava ele pensando em criatividade. E juntamente com um parceiro antigo, Pedroso colocou a idéia de fazer a Quadrilha com o nome de Dione, assim seus patrões poderiam ajudar nas despesas das roupas e outros materiais, pois Walter gostava da vestimenta de sua Quadrilha muito bonita. Era dele a responsabilidade de imaginar as roupas para cada ano e quando não conseguia fazer, seu sobrinho as projetava pra ele, assim como os vários passos dos brincantes, criados para não se repetir ano a ano. Com o Patrocínio dos patrões e do amigo Pedroso, que sempre o ajudou.
A Quadrilha do Walter foi longe, pois de todos os Festivais que participava ganhava o primeiro lugar, desde 1978, quando começou a participar de festivais até 1997, quando partiu de Santarém. Foram 19 títulos consecutivos, Walter ficou conhecido como Walter da Dione, tamanha era a sua fama de qualidade dentro do folclore santareno, através de suas maravilhosas quadrilhas. Disciplinador, perfeccionista e muito sério na organização para muitos brincantes tornava-se até chato, de tanta exigência, mas no final todos o idolatravam pela conquista da boa dança cheia de versatilidade, onde os moços, moças, garotos garotas senhoras e idosas gostavam de dançar, numa quadrilha vitoriosa, pela qualidade dentro das quadra juninas. Sampaio Brelaz, que sempre esteve presente nas grandes festivais era fã incondicional do trabalho de Walter Dione, como ficou conhecido. Pena que a nossa cidade ainda está em passo lentos para a cultura, principalmente o do folclore dentro da nossa cidade, hoje o comando da nossa cultura em Santarém, talvez nem saibam da perda lamentável desse valoroso artista, que ajudou a florescer a Quadrilha moderna nas noites juninas há quase 20 anos, sem ser uma vez condecorado como merecia.
Walter Dione se foi, mas nós jamais o esqueceremos do artista, atleta e pai que sempre soube comandar sua família no direito de viver com dignidade. Ele tinha um sonho, quando se aposentasse voltaria a sua terra querida para curtir a sua família em sua casa, onde deixou quase duas décadas. Dono de uma sinceridade transparente, Walter conquistou muitos amigos no seu novo habitat, Iapoque, tanto no trabalho como nos momentos de entretenimento. Sua caminhada fúnebre foi acompanhada pelo Corpo de Bombeiros com direito a bandeira e ao Hino tocado, do clube que tanto amou o Fluminense Futebol Clube. Nossas condolências a família, principalmente a Linda, sua esposa, suas filhas, Lizandra, Lissandra e Lisângela. Os seus filhos, Wanderson e Wander.
Santarém, 22 de Março de 2012
Raimundo Gonçalves