DIVIRTA-SE COM ESSE JOGO

MEMÓRIA RUBEM CHAGAS


A bola de futebol ou de futsal sempre foi um troféu de qualidade para o nosso homenageado de hoje. Como aconteceu com vários craques da nossa região, nem sempre foi o que eles desejavam.  Não passava pela sua cabeça ser um craque famoso, mas jogar em campos e quadra de esporte sempre foi o seu desejo, afinal quem o conheceu sabe muito bem, da sua intimidade com a redonda nos pés. Artilheiro de muitos gols, domínio de bola apurado, mas as circunstancias da vida o tiraram muito cedo, de um lugar mais brilhante dentro do campo de futebol. Rubem Miranda Chagas, ou simplesmente Rubão. 
Dono de uma humildade transparente, caráter a mostra e um apaixonado pelo futebol. Nascido num primeiro mundo encravado no meio da selva amazônica (Belterra), onde seu pai era um dos funcionários do Projeto Henry Ford. Aprendeu com seu pai a disciplina de ser útil a família. Apesar de estar sempre na frente dos seus trabalhos de construção, do Projeto em Belterra, seu Arcílio tinha em seu quintal a sua oficina para nos finais de semana fazer seus trabalhos extras, como era um homem empreendedor também representava e vendia revistas de informações diversas em dois postos em Belterra e com a partida do filho mais velho para estudar, Rubem Chagas era o principal auxiliar do seu pai, tanto na oficina como nas vendas das revistas na Vila Operária e na Praça Brasil. Dos 9 aos 11 anos de idade fazia esse trabalho com muita dedicação. Era depois da distribuição das revistas, que se juntava com outros garotos na Praça Brasil para jogar a famosa peladinha, pois de outra maneira, não sobrava tempo. Assim foi até a mudança para Santarém, com 12 anos idade, vieram morar no Bairro da Aldeia na Vila do seu Duarte bem perto da igreja do São Raimundo para logo a seguir, fazer residência na casa, que hoje mora o ex-craque do Pantera, Orlando Cota. A bola não saia da cabeça e com o seu bom domínio de bola foi percebido pelo desportista João Pinto, que comandava o Bangu, time de grande repercussão por ter jogadores como: Melhoral, Pimpão, Fabiano, Corozinho, entre outros. O problema era arranjar o tempo para treinar, pois na sua casa suas tarefas estavam cronometradas: Pela manhã, encher todas as vasilhas de água e estudar, pela parte da tarde ia para a Escola Dominical da Assembléia de Deus. Mesmo assim encontrava um tempinho e ganhava alguns minutos no time do Bangu entre os adultos. Do Ginásio Batista, foi estudar no Dom Amando, onde as coisas com a bola melhoraram. Sua sede foi sendo saciada, jogou futebol de campo, de salão e outras modalidades, que achava legal, mas não foi fácil. Pois lá no Colégio tinha muita gente boa de bola, e mais familiarizado com a turma do colégio. Os times com os melhores eram logo escolhidos, os calouros como ele, ficavam com os que sobravam, por isso, colocaram o nome do time deles, Bagaço, mas faziam bonito. A mudança para morar na 15 de Agosto mudou muita coisa na vida do jovem Rubem. Morando perto do estádio Aderbal Tapajós Caetano Corrêa, ao sair do Colégio ia direto para o estádio assistir os treinos dos clubes da cidade e de vez em quando enxertar o time juvenil do São Francisco, pois era o único que deixava os moleques da juvenil treinar antes dos adultos. Rubem Chagas ficava na beira do campo e como sempre faltava um era convidado a entrar. Depois dos estudos não perdia um treino. 2ª Feira treinava o Fluminense, 3ª O São Raimundo, 4ª O América, 5ª O São Francisco e Sexta O Norte Clube. Mas, a paixão pelo São Raimundo aconteceu quando viu a camisa do clube era igual a do União de Belterra, time que a família torcia na Vila das seringueiras, não deu outra, curte essa paixão até hoje e com mais fervor. Com 16 anos foi prosseguir seus estudos em Belém, morar com seu irmão Ernesto. Lá na capital do estado surge mais uma oportunidade para o nosso craque mostrar o seu talento. 
O seu irmão era amigo do Mimim, treinador da Juvenil do Paysandu e logo falou com o mesmo para deixar Rubem Chagas treinar no bicola. Apesar de está no fim de temporada, nos primeiros coletivos que Rubem participou, agradou o homem em cheio e o nosso craque viu surgir a sua chance, quando quase todo o time da juvenil foi desfeito, pois a maioria do time anterior estourou a idade. Foi quando o Rubem começou a jogar algumas partidas no titular do bicola. Por outro lado, ele e seu irmão buscavam um emprego para ele poder trabalhar. Passaram uns dias, Mimim fala com Ernesto para que Rubem levasse toda a sua documentação para se escrever no time do Paysandu, justamente no seu primeiro dia trabalho conseguido. Mas, uma vez, o nosso craque teve que deixar de lado, o que mais gostava para ajudar nas suas despesas. A partir dali foi de cabeça nos seus estudos, mas nas horas vagas jogava pelos times de peladas como: Granado de Marizal, Sorongaio da Praça Brasil. Por causa do seu bom desempenho como atacante, foi convidado a jogar o Suburbano, uma espécie de 2ª Divisão paraense. Defendeu o Tuiuti do Telégrafo. Na Universidade de Engenharia tornou um dos grandes destaques em campo e no futebol de salão. Chegou a pertencer as duas seleções para jogos estudantis, com apoio da Federação Paraense, onde foi treinado pelo técnico famoso da época, Miguel Cecim. E conheceu alguns estados jogando. Formado em engenharia estava assinado um contrato para trabalhar na África, muitos jovens formados foram convidados, com acerto na mão, foi chamado a Santarém pelo seu pai, que precisava de seus trabalhos em Santarém. Como sempre atendeu o mestre Arcílio, voltou à cidade querida aos 27 anos. Sem mais pretensões de jogar futebol foi mostrar outra qualidade. Sempre quando retornava de férias a Santarém, procurava a turma do ao Raimundo e sempre treinava no campo Eduardo Campos, ainda conseguiu jogar algumas partidas amistosas, do clube quando passava férias. 
E como fazia todas às vezes foi ao treinamento do São Raimundo, mas desta vez, veio para trabalhar na cidade e somar na diretoria, com o bom relacionamento que tinha com Dr. Martins, Elpídio Moura, entre outros diretores foi convidados para ser o substituto do Everaldo Martins na presidência do clube, que já estava se esgotando o seu mandato. 

Foi eleito por unanimidade, mas confessa: O clube acabara de perder um título e não foi fácil presidir um clube em crise, tivemos que pagar alimentação e moradia de certos jogadores e o clube não tinha receita suficiente, mas, demos o nosso recado. Foi treinador e teve o prazer de dirigir jogadores como Bosco, Surdão, Inacinho, Jurandir, Ricardo, entre outros. Procurou ser um abnegado fiel ao clube, e o São Raimundo foi mantendo a sua tradição. Tornando-se um dos grandes abnegados do clube até hoje. Quem conheceu bem o estádio Elinaldo Barbosa sabia do grande declive que havia de uma trave para outra. Quando chovia a água descia e formava um grande pedregulho na trave de baixo. Rubem percebia isso a tempo e para ajudar o futebol santareno a melhorar ainda mais, se doou a fazer o trabalho no estádio. Com o apoio de Elinaldo Barbosa, prefeito da época, que lhe deu oval para realizar o serviço que tinha uma diferença de nível de quase 4 metros. O estádio foi fechado para o trabalho, e Rubem Chagas teve o apoio de desportistas como: Nilo Araia, Renato Sussuarana, Ismaelino Santos, Piranha, Eurico Dentista, Didi Paixão, entre outros. Trabalho mecanizado, nivelamento, terra preta com material orgânico e posterior o gramado, que mudou o palco santareno de futebol, e assim Santarém começou a receber clubes do Rio de Janeiro, sem ter vergonha do campo, garças a atitude desse belterrense, mas de coração santareno. Nosso homenageado como desportista foi marcante na sua humildade solidária, foi colaborador na construção da 1ª quadra do São Francisco, quadra do Sesp para se praticar o 1º campeonato de Futebol de Salão da cidade e o time que ele jogava foi o campeão, Bola Branca, que trouxe o Landi, clube de Belém para entrega de faixas. Rubem Chagas também estava na frente para fazer o primeiro intercâmbio interestadual de futsal, e no Bi campeonato do Bola Branca. Trouxe o Paysandu de Belém para jogar com a seleção santarena de Futsal. Em 1969 foi trabalhar no Rio de Janeiro, onde permaneceu até o ano de 1973. De volta à terra querida, Rubem Chagas continuou seus trabalhos como profissional e ajudando seu clube de coração, onde participou da construção das arquibancadas do Panterão, iluminação e da piscina semi-olímpica. Foi um dos fundadores do time famoso de peladas em Santarém, Corroas de Ouro. E sempre esteve presente nos jogos de peladas da cidade, ora defendendo um time ora defende o outro foi sempre assim, estava disponível sempre para os seus amigos, no seu trabalho ou na bola. Hoje, no final de carreira dentro dos campos e das quadras, não se entrega de uma vez. Às vezes desfila como honra ao mérito, vestindo a camisa do Stopim. Casado com a professora Tarcísia, os três vão curtindo a boa vida abençoada por Deus, com o filho Rubinho (42).

Santarém, 19 de Outubro de 2011.
Raimundo Gonçalves.       

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