Por: Raimundo Gonçalves
Elson Antonio Gonçalves. Quando meu irmão saiu de Santarém, tinha um sonho, se tornar um grande goleiro na arte de futebol. Conseguiu ser um excepcional goleiro, apesar de não ter defendido nenhum clube de expressão nacional. Quando estava distante, teve outro sonho de voltar a sua terra querida e nela ser enterrado, também realizou esse sonho. Se tivesse vivo, faria 74 anos de idade neste 21/02 passado. Desde garoto começou a fazer as grandes pontes com bola de seringa nas traves improvisadas na praia da Coroa de Areia e chamava atenção pela segurança e seriedade, mesmo sendo uma brincadeira. O seu primeiro campo onde atuava como goleiro foi no espaço do Barão do Tapajós, com outros garotos da sua idade como: Mazinho, Cujuba, Piraca, Dicoroca, Pé de Valsa, Rosélio, entre outros que chegariam aos grandes clubes santarenos. Adolescente se ingressou no clube Juvenil dos Aliados e logo depois fez parte do Ypiranga do seu Sílvio, também Juvenil para logo depois defender o time do seu tio Sabá Caldeira, o Veterano.
Para depois, juntamente com Mazinho, se integrar no time do São Raimundo. Clube de difícil acesso aos mais novos, pois os titulares eram de idades adultas e com muita bola pra jogar. Foi lá que conheceu e se impressionou com os jogadores, Nego Otávio, Noronha, Waldomiro, Cacete, Goitinho, Truíra, Miléo, Orlando Cota e Venâncio. Na época que chegou ao São Raimundo o goleiro titular era o Flexa. Elson Gonçalves contava o inicio e o fim da sua história no clube alvinegro: “ O São Raimundo foi convidado para fazer um jogo comemorativo em Belterra, e esse tipo de confronto chamava atenção dos torcedores do São Raimundo e de Belterra. Se preparava uma festa. A imprensa santarena da época iam cobrir o jogo, pois sabiam do grande espetáculo. Os clubes de Belterra eram de fato muitos bons com jogadores de qualidade. E assim a delegação do São Raimundo foi pela parte da manhã para Belterra. Elson Gonçalves com apenas 16 anos estava presente como reserva do Flexa. Como a mãe do goleiro titular alvinegro morava no local, o goleiro foi visitá-la de bicicleta, muito normal naquela época. Mas, segundo algumas testemunhas, Flexa não foi só na casa da sua mamãe e sim passear na Vila toda, e em dado momento, fazendo as suas piruetas, caiu e bateu fortemente um dos seus joelhos, abrindo uma ferida profunda.
Elson Gonçalves foi informado, que seria o goleiro da partida. Confiante como ele, acreditava que ali estava a sua chance de mostrar a todos, que atleta jovem podia ser titular de time grande. E foi pro jogo e arrebentou. Conseguiu segurar o placar de 3x2 para o São Raimundo, ganhar do Belterra lá dentro, não era nada fácil. Osmar Simões comandando a equipe de Rádio que cobria a partida anunciou ao jovem Elson Gonçalves, que ele foi escolhido por unanimidade o melhor jogador da partida. Feliz da vida o garoto saiu comentando a proeza para seus pais e irmãos e acreditava que tinha chegado a sua vez com apenas 16 anos. Era o primeiro a chegar aos treinamentos, enquanto o Flexa se recuperava, ele era o titular nos treinos. Quinze dias depois, o Pantera anuncia outra partida amistosa contra a equipe do Fluminense. Elson Gonçalves estava ansioso para mostrar desta vez o seu talento aos santarenos. Osmar Simões virou fã do garoto desde Belterra e anunciava aos ouvintes torcedores para ver a revelação entre os goleiros, jogaria no próximo Domingo.
Tudo isso que ouvia lhe motivava e dava certeza que seria titular, pois o goleiro considerado titular, não aparecia nos treinamentos. No dia do jogo o Flexa apareceu com uma joelheira estufada cobrindo o golpe quase sarado e o treinador o escalou como titular e pediu que Elson Gonçalves aguardasse que sua vez ia chegar. Temperamento forte, o garoto assistiu ao jogo amuado, e triste, por não poder jogar diante da sua torcida.
Apesar de o jogo terminar empatado e Flexa pouco acionado para os dirigentes tudo estava em seu lugar e continuavam a falar pro garoto não esquentar, que ele tinha futuro. Ao sair caminhando do estádio foi abordado por um dirigente do Fluminense o saudoso Elvio Fonseca, que apenas lhe dirigiu a palavra: “O Pinta Cuia, nosso treinador, que falar com você, vem aí atrás!” Ao olhar para trás, viu o Pinta Cuia lhe sorrindo e lhe falando em cima da ”buxa”: “Elson Fura Calça, no meu time, tu não sentas no banco e será titular absoluto!” Lisonjeado pela forma do convite, Elson Gonçalves, não pensou duas vezes. Transferiu-se para o tricolor santareno e lá ficou dói anos e tornou-se um dos maiores pegadores de penalidades e defesas sensacionais. O segundo ano, em 1957 foi um dos principais jogadores que levaram o clube a disputar o campeonato santareno daquele ano, inesquecível para o meu irmão. Seria a hora da vingança contra o clube que não deu a chance para ele ser titular. Uma formação inesquecível: Elson Gonçalves, Lacrau e Água Preta; Prisco, Palitó e Santos; Enéias, Pires, Zeca Jati, Pedrinho Araújo e Timbó. “Meu irmão, nós tínhamos time para ganhar em campo, mas sabíamos que seria duro ganhar da arbitragem, afinal era contra o São Raimundo. Não tinha jeito, se fosse contra o São Francisco seria a mesma coisa. Sofreríamos na marcação do árbitro. Fizemos 1x0, depois arranjaram dois pênaltis e perdemos de 2x1.
O sonho de Osmar Simões era levar Elson Gonçalves para o São Francisco. Ele foi um dos torcedores apaixonados pelo Clube do Remo, não resistiu às mesmas cores do Leão santareno e tornou-se azulino santareno da gema e tudo fazia para ver o seu clube bem de jogadores. E levou o Elson Gonçalves para defender as cores azulina. Elson estreou contra a Tuna Luso de Belém na vitória de 2x1 e no final do jogo recebeu um convite da diretoria da Tuna para fazer um teste em Belém, pois a Cruz de Malta só contava com o goleiro titular, Sabará. Caetano Gonçalves, pai de Elson Gonçalves, não deixou o filho viajar. Depois de alguns jogos pelo São Francisco, o bom goleiro aceitou o convite com remuneração do desportista João Santos para que ele fosse defender o São Francisco de Monte Alegre por um período de 8 meses. Foi uma competição muito comentada pelos torcedores monte alegrenses nos informou Elson. Ele guardava na lembrança a conquista do título e relembra muito bem do prêmio a cada jogador, um boi vivo. Lembra que vendeu o dele quando retornou a Santarém. Perguntado se lembrava o nome de alguns dos jogadores campeões com ele, respondeu: O Orlando Cota estava presente e mais o Gabum, Cachimbo e Ferreirinha, são os que me lembro nesse momento. Elson ainda jogou pelo São Raimundo, de onde foi convocado para a Seleção e jogou contra a Seleção de Abaitetuba. Lá eles perderam de 2x1, mas, aqui em Santarém ganharam de 5x1. No mesmo ano Elson Gonçalves foi jogar em Manaus pelo Sul América e São Raimundo da Colina.
Em 1966 foi ao Rio de Janeiro para tratamento de saúde de sua filha, morando na casa do cunhado, que era militar, recebeu o convite para morar na cidade maravilhosa, sobre a oferta de um emprego e de jogar futebol. Lá ficou por mais de três décadas, onde trabalhou e jogou em vários clubes da 2ª Divisão Carioca. Elson Gonçalves consegue o seu último sonho. Voltar para Santarém para morar na sua cidade querida. Logo que chegou fomos fazer uma visita em frente, hoje o Mercadão 2000, local onde passava a maior Parte do dia, tomando banho e jogando bola. Não era mais a mesma coisa. Ao chegar a frente a Coroa de Areia, abriu os braços e disse: “Olha eu aqui, voltei para ficar contigo, querida Santarém.” Elson morreu de uma parada cardíaca em 26 de Setembro de 2007, no Pronto Socorro Municipal. Acreditamos na ressurreição, mas a saudade ainda é dolorida, amado irmão.
Santarém, 01 de 03 de 2012.
RaimundoGonçalves.
RaimundoGonçalves.







