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HOMENAGEM Á MANOEL MARIA

Seu nome, grande como foi no futebol. Manoel Maria Evangelista Barbosa dos Santos. Sua data de nascimento também é especial. Fisicamente ele fez 64 anos de idade nesse dia 29 de Fevereiro, mas convenhamos que aniversário, só se comemora no dia que nasceu, então, Manoel Maria fez apenas 16 anos. E por isso estamos homenageando o craque mais famoso do nosso futebol, que conseguiu se destacar nacionalmente e internacionalmente, juntamente ao lado do Rei do Futebol brasileiro, Pelé, jogando no Santos Futebol Clube. Depois de mais de três décadas fora dos gramados como jogador, Manoel Maria é referenciado pelos torcedores e novos jogadores. Fez uma amizade sólida com o Rei Pelé, que continua até hoje, e os dois, talvez sejam os mais ligados um ao outro no Santos, por que nunca deixaram de prestigiar o clube, que os colocaram no universo da fama, como jogadores diferenciados. Na realidade, se formos pesquisar a vida profissional de Manoel Maria, ela começa a partir de Belém do Pará, mas, o craque jura que não foi sua culpa e sim da imprensa que encurtava as informações e queriam mencionar que mais interessava a eles, sobre local mais abrangente no futebol, no caso Belém, na época. Há 15 anos atrás, quando fizemos a pesquisa com o seu pai, ainda muito lúcido e com a nossa convivência no futebol no período que aqui jogou, concluímos com exatidão, informações espetaculares, que não contam em nenhuma parte da sua história dentro do futebol no Brasil.

 Pois seu pai memorizou, muito mais do que o próprio Manoel Maria e tem mais: Certos acontecimentos da sua vida de profissional eram tratados somente com Davi Nataniel, e nem tudo era comentado com o craque, informava o seu genitor. Portanto, Manoel Maria começou a jogar futebol em Santarém em clubes de bairro de pouca repercussão na cidade, pois ainda muito jovem não foi tentar a sorte em nenhum clube da elite. Chegamos a vê-lo em atividade com a bola no campo do Veterano, onde hoje é a Feira do Mercadão 2000. Era atacante, mas parecia um malabarista de circo com a bola nos pés. Seu pai Davi Nataniel era polivalente na vida profissional e sempre estava viajando de lugar em lugar para trabalhar. Numa dessas viagens foi a Belém, onde levou toda a família. Enquanto trabalhava o garoto estudava e jogava bola, na escola ou nos campinhos aonde foi notado. Seu pai sabia da sua habilidade e o incentivava. Ainda iria completar 14 anos, quando foi jogar na Juvenil do Clube do Remo. Com pé direito ganhou o seu 1º título de Campeão. Era previsto um futuro promissor ao jovem craque dentro de Leão Azul, mas, seu pai tinha de voltar para Santarém, o trabalho tinha terminado, de acordo com o filho e os dirigentes do Clube do Remo, Manoel Maria ficaria no clube. Mas, as coisas mudaram quando o garoto sofreu uma fratura no braço direito, sentiu que os cartolas o desprezaram e logo falou com seu pai, que mandou ele retornar para Santarém. Aqui foi que iniciou a sua trajetória de sucessos no glorioso São Raimundo.
Ainda muito jovem foi apresentado pelo seu pai ao treinador João Pinto, e disse: ‘Esse garoto tem condição de jogar até no titular do Pantera.” Ao ver o corpo franzino do garoto, o treinador sacudiu a cabeça para Davi Nataniel, negativamente e falou: “Onde tem jogadores do calibre adulto como Mazinho, Inacinho, Pedro Nazaré,  entre outros, ainda é cedo para esse garoto. Davi Nataniel com seu jeito calmo e de visibilidade impar dentro do futebol, respondeu ao João Pinto: “Dê uma chance entre os titulares, somente uma chance!” Depois desta chance o nosso craque foi Campeão pelo São Raimundo e pela Seleção Santarena no Intermunicipal do mesmo ano, 1966. A nossa seleção foi o grande veículo de condução ao Manoel Maria. Ele apareceu tanto em Belém, que os três na época melhores do Pará, Remo, Paysandu e Tuna correram a trás para ter o craque. Davi Nataniel experiente quis a Tuna Luso. Lá o seu filho jogaria tranqüilo com o seu futebol. Em campo fez borboleta virar abano, jacaré nadar de costa e outras coisinhas a mais com os pobres dos laterais. Belém ficou pequeno demais para ele. Seu Davi Nataniel e o presidente da Federação, Dr. Peres, que se tornou fã do garoto bom de bola queriam ver o craque nos grandes clubes do país. E como estava se formando a Seleção Olímpica Brasileira, o presidente foi a CBD, em reunião e indicou o Manoel Maria para a seleção, e contou em poucas palavras o grande jogador que era o seu indicado.

“Se ele é isso mesmo, o jogador será convocado.” Respondeu o todo poderoso da CBD, João Havelange. Quando a lista saiu, não constava o nome de Manoel Maria. Davi Nataniel estava junto com Dr. Peres e o incentivou a ir novamente até a CBD. O Dr. Peres não se intimidou, mandou uma carta diretamente ao presidente João Havelange, comunicando, que o seu jogador não constava na lista de convocado. Pagaria as despesas de passagens, só queria uma chance para ele na seleção. João Havelange, sensibilizado com a  carta do amigo, que votava nele. E assim o comandante abriu um precedente inédito na sua gestão e mandou convocar Manoel Maria. No seu primeiro dia de treinamento, ficou desconfiado, tinha três pontas direita e o titular era nada mais, que o Cafuringa, ponta titular do Fluminense. Quando entrou no coletivo faltavam 10 minutos para acabar o treino, mas foi o suficiente para o treinador Zezé Moreira escolher ele como o reserva de Cafuringa, e no treinamento seguinte fazer de Paulo Henrique, um lateral João, de tantos levar dribles desconcertantes e assim virou titular na Seleção Brasileira Olímpica. Com moral de craque, Manoel Maria e Dr. Peres conseguiram algo inédito para aquela época, trazer a Seleção Olímpica para jogar em Santarém. E é claro, o clube escolhido pelo Manoel Maria foi o seu São Raimundo. Caso já muito contado em nossa cidade, Manoel Maria jogou um tempo pelo Pantera e outro pela Seleção. O São Raimundo venceu a Seleção por 3x2. Em 1968. Ferrete (Jogador do Botafogo, marcou os dois gols da Seleção. Dote, Pelézinho e Cabinha marcaram para o Pantera. A seguir a trajetória desse fabuloso jogador foi o Santos de Pelé, onde foi titular absoluto.

No time do Rei, Manoel Maria foi espetacular, ainda muito jovem conseguiu a camisa nº 7 do legendário Dorval, e quando a torcida viu o garoto jogar, partidas consecutivas, não deixou por menos, e começou a chamá-lo de Mané, uma continência esportiva ao melhor ponta direita do mundo, Mané Garrincha. Dentro do Santos como titular, conheceu sensacionais craques da época e desenvolveu tanto o seu futebol, que acabou tendo seu nome com grande repercussão, entre os 40 jogadores inscritos para a Seleção Tri-Campeão do Mundo em 1970. Enquanto o Zagallo treinava a Seleção, o Santos usufruía do grande prestígio que conseguiu fora do Brasil se preparando para as excursões para a Europa e Manoel Maria era o nome certo para essa viagem com o clube, já que algumas feras já estavam servindo a Seleção. Neste mesmo período, o excelente ponta direita do Botafogo Rogério era a notícia de baixa da Seleção, pois tinha se contundido gravemente. Rogério era o reserva do também botafoguense Jairzinho na ponta direita. Júlio Mazzei, diretor de futebol do Santos, determina que Manoel Maria não viagem com a delegação do Santos, pois a qualquer momento ele poderia ser convocado para o lugar de Rogério.
A expectativa era grande dentro do clube por mais um atleta do time na Seleção. Dias passaram e o assunto Rogério era sério mesmo, a convocação era questão de horas e assim o Lobo Zagallo inventou mais uma das suas, convocou para de um ponta direita, o goleiro Leão. Frustração total para os santistas e alegria para os palmeirenses. Desolado, Manoel Maria perdeu muito com a não convocação e por não poder ter ido a excursão do seu clube. Teve que ficar todo esse período, apenas treinado entre o time base e cumprindo seu papel civil, já que servia o exercito na época e foi  justamente no decorrer desses dias, que ele sofreu o acidente que praticamente o aniquilou do futebol, ainda muito jovem, quando seguia em seu carro para o quartel. Foi o Zagallo que inventou três goleiros para a Seleção Brasileira. Se com dois já é difícil o reserva entrar, imagine com três. Coisas do Zagallo. Tirou a oportunidade de o nosso Manoel Maria ser Tri-Campeão Mundial, em 1970 e a fatalidade trouxe um acidente que não deixou que o nosso craque continuasse o seu show de bola 100% fisicamente. Mesmo assim nosso craque ainda defendeu várias equipes depois que saiu do Santos como jogador. Em determinada época, logo após o Rei Pelé ter se despedido do futebol brasileiro e foi ensinar americano jogar futebol com bola redonda, o Pelé não se esqueceu do seu grande amigo e assim como ele fez com outros, Rildo, Carlos Alberto, também levou Manoel Maria para ganhar uns dólares a mais para viver dignamente.
Depois dos do Cosmo no Estados Unidos, nunca mais os dois se separaram e mantiveram sempre juntos selando o acordo amigo de compadres. Pelé virou o atleta do século e Manoel Maria descobridor de talentos. Em Santos fez a sua escolinha, mas foi mais além com o apoio do Rei Pelé, tornou-se um empresário do ramo dos mais conceituado no país e tem como base de teste a garotos novos que querem vencer no futebol com talento, o clube do Jabaquara, onde o Pelé é o seu principal acionista. Uma das suas consagradas descoberta foi do atacante Robinho, onde declarou em Rede Nacional o seu respeito e gratidão pelo Manoel Maria o qual ele chama de pai. Manoel Maria sempre vem a Santarém, mas, uma vez me confessou ao se despedir no dia da sua volta para Santos, que já tinha vendo várias vezes visitar seu pai e nunca foi procurado pela diretoria do São Raimundo, o que ele sentia muita tristeza por isso. Certa vez ao retornar a Santarém tivemos conhecimento, eu e o Prof. Pedrinho Moreira, ex-goleiro do Pantera e chegamos junto ao presidente do clube, na época, Rosinaldo do Vale e combinamos fazer uma homenagem do clube para ele, antes de partir. Foi na sede do clube, onde alguns cantores da terra homenagearam o craque com músicas santarena inesquecíveis, onde recebeu várias condecorações. Lembro que fechei as homenagens com fotos e um texto de memória sobre sua vida dentro do futebol, na qual ao terminar, ele se emocionou e falou:
 “Muito obrigado Raimundo Gonçalves, demais amigos e a diretoria como São Raimundo, eu já recebi dezenas de homenagens sobre o meu trabalho dentro do futebol, fora e dentro de campo, Pelo Santos foram muitas, mas eu sentia a falta de uma homenagem do clube que me projetou para o mundo do futebol, agora eu estou muito feliz, como vocês vêem ate muito emocionado... Muito obrigado." 
Depois dessa passagem por Santarém, Manoel Maria retornou a terra querida e veio a sede do clube conhecer o troféu prêmio do título inédito no Brasil, que o primeiro Campeonato Brasileiro da Série D. Desta vez com pompas de toda a imprensa santarena, ele declarou o seu grande amor pelo Pantera Velho de Guerra. Disse que sofreu a cada partida da decisão na sua casa junto com alguns amigos e sua família e foi emocionante a conquista do título para ele e para quem o acompanhava. !Falei aos meus filhos, principalmente ao André, que hoje segue o comando profissional como treinador. “O São Raimundo sempre foi um clube de bons jogadores de níveis muito grande, mas nunca passou  da cidade considerada pequena, hoje nasce outro São Raimundo, tão grande quanto outros clubes brasileiros, que começaram assim. “É preciso ter profissionalismo, e muita humildade para chegar ao topo do sucesso.” Beijou várias vezes o troféu ganho pelo seu clube de coração e agradeceu mais essa oportunidade de poder vibrar juntos com a grande vitória alvinegra.

Santarém, 04 de Março de 2012.
Raimundo Gonçalves.         

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