DIVIRTA-SE COM ESSE JOGO

A TROCA DE CAMISA - PARTE I



 O que faz um jogador de futebol a sentir desprezo, raiva ou até mesmo ódio pelo clube que um dia defendeu? É um sentimento que perguntado deve ter enumeras respostas do por que: Uns ainda com ressentimentos, outros falando: “isso é coisa do passado, não tenho nada contra, apenas estou no outro e muito bem!” Esse assunto mexe com a minha cabeça há muito tempo, depois que comecei a conhecer um pouco da nossa história de futebol, e os maiores casos de trocas de camisas com ressentimentos está entre os dois maiores clubes da nossa cidade, São Raimundo e São Francisco. E muitas histórias vêm desde anos 40, quando um dos grandes atacantes da terra se revoltou com a sua substituição em um dos momentos de um jogo. Anastácio Miranda, na época conhecidíssimo, apenas como Miranda, e com esse nome brilhou no futebol em Belém, aonde chegou a comandar com seus gols alguns títulos para o Clube do Remo e chegou a jogar no Rio Grande do Sul. Criado e crescido no Bairro da Aldeia, ainda garoto se juntou aos irmãos Nezinho e Ladir, ao clube do São Raimundo, se tornando um dos homens gols do clube alvinegros, inclusive sendo campeão do primeiro título do Pantera, em 1949. Em um jogo no clássico RaixFran, foi substituído no 2º tempo do jogo. Não gostou da atitude do treinador, tirou a camisa dentro do campo e jogou no chão, revoltado pisou várias vezes no manto alvinegro. Na noite do mesmo dia do acontecimento foi excluído do clube por uma votação unânime entre jogadores e diretores. Foi jogar no seu maior rival, o São Francisco e tornou-se um dos maiores atacantes rivais de carteirinha do clube que iniciou, com um apelido que marcou a sua história, Beleza Preta. Anastácio Miranda ficou Leão Azul até morrer.


Do bairro da Aldeia não poderia ter deixado de começar a sua trajetória vitoriosa, não pelo São Raimundo. A convite do Lacrau, um ex-jogador do clube, Acari vestiu a camisa alvinegra. E ralou muito para jogar no time titular, só conseguiu no ano seguinte. Mas, uma desilusão maior veio acontecer. Depois de uma excursão a Manaus onde foi titular absoluto, ficou de fora de uma próxima excursão para a cidade amazonense, sem entender nada, apenas lamentou com outro colega de time que também não foi chamado, Estelito Dicoroca. A diretoria do São Raimundo não refletiu a besteira que fez, e de imediato a diretoria do São Francisco levou os dois jogadores para a toca do Leão. José Pereira de Siqueira, Acari, se deu muito bem. Tornou-se um dos melhores laterais esquerdo de Santarém e do Pará. Foi destaque em nossa seleção e desejado por vários clubes do Brasil. Depois de ganhar títulos pelo Leão santareno foi ajudar a Tuna Luso a ganhar um título que não ganhava há 12 anos. O saudoso Ubaldo Campos Corrêa foi quem levou o craque para Belém. Jogou 6 anos consecutivos na Cruz de Malta como titular, porém, em 1975 recebeu a notícia que abalou sua estrutura de vida profissional. A morte do seu pai. Foi liberado para vir ao funeral do seu pai e nunca mais voltou para jogar na Cruz de Malta. Até hoje o seu atestado liberatório foi pedido. Acari perdeu a motivação para o futebol profissional.  José Pereira de Siqueira continua morando em Santarém, jogando apenas peladas nos finais de semana. E afinal, qual é o seu time de coração?


Moleque das peladas de praias, vigor físico aprimorado para agüentar os grandes rachas das partidas decisivas. E foi parar no Aspirante do São Francisco, como centro avante, não poderia dar em nada. Baruca era o treinador e exigia que o garoto desse show no zagueiro Miguel Coruja, era difícil. Sem mostrar avanço como atacante, o técnico Baruca mandou o garoto ir embora. Ronildo que jogava no Aspirante do Pantera, convidou Helvécio para jogar no São Raimundo. Lá foi logo Campeão, mas como zagueiro, a sua posição. Levou a sério os treinamentos para ser titular e teve a sua chance com o treinador Valdo Abdala, no Torneio início. Jogadores titulares do time gostavam do Sabiá e Inacinho era quem mais incentivava o garoto, no jogo de estréia no torneio, o Negão foi para o ataque só para Helvécio entrar na zaga ao lado do Ricardo. Helvécio poderia ter ficado no Pantera, mas o clube não pode segurar o atleta que precisava de ajuda para continuar seus estudos, diretoria do São Francisco mais organizada assumiu o jovem craque que deu muitas alegrias ao Leão Azul santareno antes de partir para uma nova vida fora de Santarém. Foi tri-campeão pelo São Francisco, e participou da seleção santarena juntamente com vários craques da época e ganhou notoriedade como um verdadeiro xerife dentro da sua área. Helvécio Siqueira dos Santos partiu de Santarém aos 21 anos de idade e foi diretamente para Porto Alegre para estudar, não deixou passar a oportunidade que teve de jogar no Cruzeiro, mas a incompatibilidade com o treinador Ênio Andrade foi um prêmio para apenas passar por São Paulo e finalmente chegar ao Rio de Janeiro para realizar o seu maior objetivo. Fez economia, direito e faz consultoria Financeira na capital carioca. Apesar de morar no Rio de Janeiro, tem o prazer de sempre visitar a terra querida com a sua amada Rosane. O Rio de Janeiro capital da ilusão, que imaculou meus sonhos e prendeu meu coração. E o vento que me trouxe, embalavam um caboclo sonhador e a minha voz te chama Santarém do meu amor. Pequena Alter do Chão, rogue a Virgem Conceição, pra que eu volte e pare de chorar... Leão roxo, depois de vestir a camisa alvinegra.


Vindo de Monte Alegre nos anos 60, defendeu com muita categoria o clube azulino por vários campeonatos, sendo um dos grandes goleadores. Apesar de na época o São Francisco ter diversos atacantes de grande talento e artilheiros como Edwar, Bimba e Paulo Roberto, o Monte Alegrense Afonso Lins se destacou com a sua técnica apurada e chutes perigosos no gol. Por isso não ficou em Santarém. Mas certo dia foi convidado para se integrar na equipe do São Raimundo para uma excursão em Manaus e assim o goleador azulino vestiu a camisa alvinegra e mostrou o seu talento. Foi notável em Belém, ídolo em Manaus e super ídolo em Portugal. No auge do seu sucesso, retornou de férias a sua cidade, Monte Alegre, num passeio com amigos e parentes, sofreu um acidente de carro e morreu. Sua morte foi muito comentada pelos cantos do país, principalmente onde jogou e mostrou todo o seu talento. E agora! Como saber qual era o seu clube do coração? Leão ou Pantera?


Santarém, 29 de Outubro de 2011.
Raimundo Gonçalves.       


        

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